quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PALAVRAS QUE JÁ ERAM

Gosto das reflexões de Ivan Lessa do BBC Brasil, ele tem algo do tipo uma epifania e traz esse fleche de visão para o leitores analisar junto com ele. De vez em quando vou postar aqui.

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O Dicionário Collins, aqui no Reino Unido, é dos mais respeitados. Justamente. Tenho uma versão informatizada do catatau. Vira e mexe, lá estou fuçando.
No fim dos contas, o que resta mesmo são as “palavras, palavras, palavras” que um certo melancólico príncipe dinamarquês disse um dia e para sempre ficaram.
Pois bem, o Collins, como tudo mais e toda gente, quer se atualizar. Jogar fora o inútil. Dar uma limpeza na casa.
Primeira providência, já se sabe: jogar coisa fora.
Ora, em dicionário, acho isso tolice. A graça toda de um dicionário é não deixar palavra morrer.

Acrescentar sempre, não retirar nada, por mais escalafobética que seja a palavra. Não me mexam, por favor, na palavra escalafobética.

Mas não, o Collins vai jogar fora, sem reciclar, como nosso lixo diário, palavras ótimas. Exemplificando: aerodrome e charabanc vão pegar, ou querem dar-lhes, cartão vermelho.
O primeiro nem preciso dar conta, o segundo nos deu (ou acho que vem) de caravana, e significa um ônibus de turismo.

O som da palavra é importante. Às vezes mais do que seu significado. Charabanc é um bom exemplo. 

Depois querem jogar fora wittol, que, sou sincero, nunca tivera o prazer. Wittol é um homem que tolera a, ou, pior, as infidelidades da esposa (essa palavra podia passar a um time reserva, eu só uso mulher mesmo, como se diria numa marchinha marota). 

Em suma, nosso velho conhecido, o “corno manso”, que me perdoem senhoras (hummm) e senhoritas presentes, mas a expressão é boa, sem chegar ao esplendor do cocu francês ou do cuckold inglês, que esse deixaram em paz, já que tem o bastante em matéria de problemas. 

O obsoletismo é um sinal dos tempos chatíssimos em que vivemos. Tudo é feito aquele velho “já era” que, felizmente, já se foi. Agora é só não tocar na informática. Essa deixar em paz, pesquisar e dicionarizar toda e qualquer movimento que esbocem, devem dizer os lexicógraofos.

E nós com o fish? Nada. 

Mas não posso me esquecer de um velho professor, “seu” Firmo Costa que no ano em que uma música de carnaval pegou adoidada (ou adoudada) ele gostava de nos dizer em sua aula de Português: “Tanto se me dá que a azêmula claudique o que eu desejo é acicatá-la”. Traduzindo para o original da época, na voz de Jorge Veiga, O Caricaturista do Samba: “Que me importe que a mula manque o que eu quero é rosetar”. Rosetou-se muito naquele ano. Deu, como sempre, até em título de espetáculo de teatro revista.

De qualquer forma, como não levo a sério esse espírito lexicográfico de vassourada ou aspirador, da mesma forma como não levo a sério “reformas ortográficas”, só de brincadeira e falta do que fazer, dou minhas sugestões para palavras que, por isso ou aquilo outro, em geral ferem meus ouvidos, machucam minha sensibilidade.

Cada um deve ter suas palavras mais obsoletas. Obsoletai então, irmãos, já que não há mais nada a fazer.

Paredón para: supimpa, turba, brunir, galocha, sarapintado, borra-botas, manguaça, lambisgóia, charneca, soer, outrossim, dest´arte, lingrinhas, borboleta e doromildar.

Estava batendo bola e tentando testar o o companheiro aí.

Borboleta, nomo nenúfares, é ótimo, e doromildar é verbo que só existe em minha imaginação doentia onde há uma doremilda dos diabos sempre a se fazer ouvir.

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