Crente convicto, Denzel Washington diz que o personagem Eli é mais um instrumento para propagar sua fé diante das câmeras.
Por Brett McCracken
Ele sempre inclui em seus autógrafos a frase “Deus te abençoe”. Nos sets de gravação, faz questão de expressar sua fé através de orações. No conforto de casa, medita nas Escrituras todas as manhãs – tanto, que acaba de completar a terceira leitura da Bíblia de capa a capa. Agora, na pele do personagem principal de O Livro de Eli (Sony Pictures), novo e apocalíptico filme de Hollywood, em cartaz no Brasil, Denzel Washington dá continuidade à carreira que considera como um verdadeiro ministério. Assim é o astro ganhador de dois Oscars e um dos mais consagrados atores de sua geração. Aos 55 anos, Washington saboreia a celebridade e a fortuna que conquistou ao longo de quase três décadas à frente das câmeras. Mundialmente famoso por sua participação em sucessos de bilheteria como Tempo de Glória, Filadelfia e Dia de Treinamento, ele não deixa de dar glórias a Deus por tudo.
Em O Livro de Eli, Washington interpreta um misterioso peregrino guiado por Deus para proteger o último exemplar da Bíblia Sagrada num cenário de devastação nuclear. Ele deve guardar o livro e entregá-lo a quem seja digno de usá-lo para reerguer a humanidade, mas precisa enfrentar aqueles que querem apoderar-se das Escrituras e fazer delas instrumento de poder – particularmente, o tirânico Carnegie (Gary Oldman). Mas, apesar da nobreza da missão, Eli por vezes recorre a uma violência maior do que a dos vilões que tem pela frente. Ele só começa a mudar após conhecer uma menina (Mila Kunis) que o faz lembrar que, muitas vezes, o radicalismo em relação às coisas consideradas sagradas pode cegar o homem. Uma metáfora do que acontece na vida de muita gente, inclusive crentes sinceros, tão zelosos da Palavra de Deus que se esquecem de que o mais importante não é possuí-la, mas viver de acordo com seus ensinos.
É possível encontrar fé por todo lado no filme. Tudo bem que os diretores (e irmãos) Albert e Allen Hughes tenham usado e abusado dos clichês, mas a campanha de divulgação nos Estados Unidos apostou na terminologia religiosa, e a expectativa é de que a obra seja lembrada pelo conteúdo – além, é claro, de que renda seus milhões. Mas, a julgar pelas palavras de Denzel Washington, sua participação nele é muito mais do que mero trabalho. “A grande mensagem de Eli é ‘faça mais pelos outros do que você faria por você mesmo’”, diz o ator. Nas filmagens, ele tentou influenciar os colegas de elenco e a equipe técnica. “Nós orávamos por tudo, todos os dias”, garante. “Tenho tentado agir desta forma, ainda que nos piores papéis, como em Dia de Treinamento”. Ali, na pele do agente de polícia Alonzo Harris, faturou a segunda estatueta da Academia como ator principal.
O artista diz que sempre escolhe papéis através dos quais possa direcionar uma “mensagem positiva” ao público ou até mesmo refletir a profundidade de sua fé pessoal. De forma similar ao personagem de Washington em Chamas da Vingança, a violência de Eli tem ao menos a justificativa de proteger inocentes. “Não foi tão fácil encenar o papel”, reconhece. “O cara é mais violento do que Malcolm X”, compara, em referência ao ativista negro que encarnou no filme homônimo, de 1992. Contudo, na vida real, o ator é um homem calmo, desses que costumam ser definidos como “de família”. Casado há 26 anos com Pauletta e pai de quatro filhos – John David, Katia e os gêmeos Malcolm e Olivia –, Denzel Washington está longe daquele estereótipo de Hollywood, onde os astros não são exatamente conhecidos pela vida conjugal estável.
Estrelato – O comportamento discreto fora de cena tem explicação. É que a fé evangélica é parte fundamental da vida de Washington desde sempre. Filho de um pregador pentecostal de Mount Vernon, no estado de Nova Iorque, ele é membro ativo da Igreja de Deus em Cristo. “Creio que Jesus é o Filho de Deus”, professa. “Fui certa vez preenchido em meu coração com o Espírito Santo, e eu sei que isso é real”. O ator conta que a conversão, ocorrida na adolescência, foi um momento íntimo com Deus. “Comecei a chorar como um bebê, e a assustar-me com tamanha realidade, pois não entendia o que estava acontecendo. Foi uma experiência muito forte”, narra. “Eu pensava que ‘Deus é amor’ fosse apenas uma expressão. Levou um tempo até que eu entendesse o verdadeiro significado daquelas palavras. Se você não consegue amar aqueles que estão ao seu redor, então você não tem nada.”
Embora não seja declaradamente um grande fã da palavra “religião”, ele não tem vergonha de falar abertamente sobre suas convicções cristãs. Certa vez, perguntou ao seu pastor se porventura poderia ter uma vocação para ser ministro do Evangelho. A resposta foi taxativa: “Você já não está falando para milhões de pessoas?”. Como seu personagem Eli, Washington acredita em chamadas proféticas, e tenta fazer o máximo que pode para cumprir o que pensa ser o ministério que o Senhor lhe reservou. Ele relembra um episódio de quando tinha 20 anos, que demonstra como relaciona sua fé com a carreira. Em 1975, o então estudante estava no salão de beleza da mãe quando ouviu de uma cliente uma palavra estonteante. Aquela mulher, chamada Ruth Green, era uma crente conhecida na cidade como profeta de Deus e disse claramente a Washington: “Meu filho, você viajará pelo mundo e falará a milhões de pessoas”. E foi exatamente o que ocorreu, embora de forma inusitada.
Naquele verão, Washington foi voluntário num acampamento da Associação Cristã de Moços. Os conselheiros realizavam diversas atividades para as crianças, e alguém sugeriu que ele atuasse, pois já demonstrava habilidades cênicas. No outono daquele ano, começou a estudar jornalismo na Universidade Fordham, curso mais tarde abandonado. A sua primeira grande oportunidade cinematográfica foi proporcionada pelo diretor Richard Attenborough, que o convidou para desempenhar o papel do ativista sulafricano Steve Biko em Um Grito de Liberdade, de 1987. Dois anos depois, conquistou o Oscar por seu papel coadjuvante no épico Tempo de Glória, sobre um batalhão de soldados negros na Guerra de Secessão americana. O Dossiê Pelicano, ao lado de Julia Roberts, e Filadelfia, em que atuou como o advogado do personagem homossexual e soropositivo vivido por Tom Hanks, levaram-no definitivamente ao estrelato.
“Fazer o melhor” – Denzel Washingtonreconhece que foi colocado por Deus em uma posição única. “Sinto-me capaz de fazer o meu melhor, pregando com minha arte”, explica. Uma passagem bíblica que chama particularmente sua atenção é o texto de Provérbios 4. Ele diz que o sábio Salomão o faz pensar sobre a própria vida. “Tenho uma casa enorme, com todas essas coisas, mas o Senhor me fez ver que não posso carregar tudo comigo quando partir”. O ator conta que tem sido motivado a buscar sabedoria, tema constante em seus devocionais. “Não posso ser mais bem sucedido. Mas eu posso ser alguém melhor. Posso aprender a amar mais, a ser mais compreensivo, a obter mais sabedoria”, aspira. Aliás, caso se visse na mesma situação que Eli, tudo o que o ator gostaria de ter seria justamente uma Bíblia. “Acho que ter fé é escutar aquela vozinha dentro de você, não ser intimidado ou desencorajado pelos outros e seguir sua missão na vida”, diz. “Minha mãe me dizia que é interessante fazer o bem, mas é preciso fazê-lo da maneira certa.”
Sobre o próprio talento, o astro é bem objetivo: “Recebi algumas habilidades, e as encaro da seguinte forma: O que farei com o que tenho? E quem será exaltado com isso tudo?”. Além de seu envolvimento com a obra de Deus – ele doou 2.5 milhões de dólares para a construção das novas instalações de sua igreja, em 1995 – é um grande patrocinador do programa Boys and girls clubs of America (do qual ele participou quando criança), dentre outra ações de caridade. Ciente de que é um privilegiado, Denzel Washington só quer poder falar como seu personagem Eli, no fim do filme, citando a conhecida passagem de II Timóteo 4.7: “Lutei o bom combate e guardei a fé”.
Fonte: Cristianismo Hoje
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