A dramatização abaixo foi apresentada pelos colegas da faculdade sobre a variação linguística. Achei muito bem bolada, criativa e levanta uma discussão importantíssima acerca do respeito mútuo quanto às variações existente dentro de uma mesma língua portuguesa.
Aproveito para indicar a leitura, na íntegra, do livro do linguísta Marcos Bagno: Preconceito Linguísitico o que é, como se faz. Bagno aborda a inclusão social, por meio do não preconceito com os diversos falares presentes no país, inclusive o respeito quanto à diversidade cultural brasileira.
DRAMATIZAÇÃO
Por: Alécia Nunes, Ana Carla, Maurício Lima, Moisés Carneiro, Moisés Fiúza
Patativa - Gud moringa! Ou gud moring! Bão jú! Beiju ou Bujudo! Eita língua istranha sô! Tinha uns homão e umas muier caneludas, pálida que nem vela lá fora, acho que nunca viram o sorzão do sertão. Eles passavam pur mim e me cumprimentava assim, eu num intindia nada, mas, pela rivirência cum a cabeça paricia que era bão dia. sabe lá!
Ops! Perdão, Bão dia prefessor! Me adiscurpa o atrazo. É que a muier se isquiceu de botar o galo de quarto pra cantar num sabe? Ô Rosarva abestada, tem medo do bicho de ferro.
Professor- Em primeiro lugar é bom dia e não bão dia! E não é prefessor, e sim professor, e tem mais, a mulher esqueceu-se de programar o despertador para alarmar.
Pat – Oia que cuincidencia! A sua também se isquiceu foi?
Prof– Ai meu Deus! Patativa... Patativa... O Senhor deveria acordar antes do galo cantar, pois, não sabes que o todo poderoso presta assistência aos que antes da ocasião própria levantam da cama ao alvorecer?
Pat – O prefessor fala istranho Né pessoá? Ah prefessor eu posso dizer isso mió intendido que o sinhor. Oia o rudeio qui ele fez pra mo´de dizer; Patativa o sinhor num sabe que Deus ajuda a quem cedo madruga? Lá na roça a gente acordemo cum as galinha tacudo. E nem pricisa muier botar galo de quarto pra cantar. Quer insinar missa a vigário é? Ara sô!
Fiuza - É mesmo profissa! Quem Pinota cedo da cama, o mano lá de cima ajuda, é bem mais fácil de se arrumar nas idéias do que esse rolé que o senhor deu ai com as palavras. Desse jeito o profissa parece até um almofadinha falando.
Ana Carla – Pô meu! Então a piriguete aqui tá na bruxa! Só acordo tarde. Vocês ainda entenderam esse troço, e eu que não captei nada que o gostosão ai falou.
Álecia – Você nunca entende nada mesmo. Mas no baile funk tu se liga nas letras tudo. Né não? Só as cachorras uuuuu, as preparadas uuuuu.
Ana Carla – Oia pra essa daí oia! Doida pra cair na dança com o professor. Eu tô ligada em você. Você quer me atravessar, mas, o professor já tá na mira. Se saia viu?
Prof – Calma lá pessoal! Não sejam presunçosos. Cada espécime dos primatas deve permanecer na subdivisão do caule de uma árvore ou arbusto que lhe pertencem. Eu sou o mestre e vocês são apenas alunos. Devem me escutar e me respeitar.
Pat – Ô cabra marrento! O sinhor num rispeita meu falar e inda fica ai Cheio de trimiliques pra dizer o ditado mais populoso do sertão. O dito cujo, Cada macaco no seu gaio. Cuidado pra num cair do seu hein? Ele tá muito arto. Ê nariz impinado.
Fiuza – É isso ai profissa! Cada pivete na sua parada e as mamães continuam a sorrir numa boa. Se ligou na letra?
Ana Carla– É isso ai Teacher! Cada nega com seu nego e eu não quebro dente e nem desarrumo cabelo de nenhuma piranha. Sentiu o drama? Não? Faço você sentir depois da aula se quiser.
Álecia – Sai pra lá piriguetona oferecida! Que o professor não vai querer nada com você. Não é querido mestre?
Prof- Oh my God! Cada indivíduo cujo comportamento ou raciocínio denota alterações patológicas das faculdades mentais cultiva seus hábitos peculiares e obsessivos. Fazer o quê diante deste quadro?
Pat – Eita mania de infeitar e dá vortas pra falar um simpres povérbio popular. Cada louco cum suas mania. Sabe prefessor vou te dizer umas lera reá também. Iscuita só:
*Sem lábia formal, mas cum sabiduria
me faço intindido im todas região
inquanto que tu com tal maestria
de grama dramática, mas sem poesia
num quis me intendê aqui neste salão.
Agora me arretiro e deixo verdades
Cunosco eu sei, que tu té pudia
fundi as linguage em pasto mió
Formal e informal, sem ter bestêró
E variar tudo em trocêra de nó.
Língua brasileira seu peste sem cabra
Rural, urbana, palácio ou chupana
Indígina, gringas em roças de cana
Do império a Husself ou Lulalalá
Não julga-se o bem nem o seu má falá.
*Por: Moisés Carneiro
Mas de uma coisa eu sei. Falta poisia in teu mode de insiná.
Ô Minha Cumade Ana! O que o poeta da roça tem pra prosiá?
ANA - O POETA DA ROÇA? - Ele diz o seguinte:
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode istudá.
Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Eu canto o cabôco com sua caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.
Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.
Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
(ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1980)
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