domingo, 26 de dezembro de 2010

Cem anos de solidão

Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Màrquez, tornou-se pra mim um clássico, e acredito que para muitos. Em sua narrativa inteligente, estigante e sua linealidade totalmente fragmentada, Marquez prende a atenção do leitor com a saga da família Buendía em torno da aldeia de Macondo. É preciso ser um leitor atento para perceber em que época cada história vai se desenrolando, visto que os nomes dos personargens vão se repetindo. A centenária e matriarca da família, Úrsula, acompanha todas as gerações.

A versão de 2009, traduzida pelo amigo da Marquèz, Eric Napomuceno, traz em suas primeiras páginas a árvore da família Buendía para facilitar a leitura acompanhando cada geração e seus descendentes.

O comentário de Sérgio Rodrigues, colunista da Revista Veja no Blog TodoPosa, irá confirmar, o que pra mim é um dos melhores livros da literatura latino-americana:


Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.

O começo de “Cem anos de solidão”, romance lançado em 1967 por Gabriel García Márquez (Record, tradução de Eliane Zagury), é um dos maiores clássicos do gênero, sobretudo na preferência do leitor comum. Presença obrigatória em listas de aberturas romanescas memoráveis, vale a pena examinar mais de perto o mecanismo que o torna tão eficaz: a superposição de tempos narrativos.

García Márquez demarca com brevidade impressionante dois momentos de ação, separados por “muitos anos”, e em cada um deles pendura um anzol que o leitor dificilmente deixará de morder. O primeiro traz uma isca política ou mundana: quais foram os motivos e o desfecho do tal fuzilamento? O segundo abre uma dimensão poética de formação, situando numa “tarde remota” a transmissão entre pai e filho de um saber sobre a natureza. Sem forçar barra nenhuma, pode-se imaginar até um terceiro anzol em que a isca é a curiosidade de saber como histórias tão díspares vão se combinar.

E tudo isso em duas linhas.

Além de enredar o leitor em mais de uma trama ao mesmo tempo, a abertura que superpõe tempos tem o mérito de fixar à vista de todos as estacas entre as quais vai se estender a corda da narrativa – que, ao contrário do que supõem muitos literatos, deve manter certa tensão até o fim para que o leitor equilibrista não despenque lá de cima e desista do livro.
O escritor colombiano, que nunca demonstrou dúvida sobre a necessidade básica de prender o leitor, gosta do truque.


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